Alexandre Penna (Feitiço Mineiro, Brasília, 15/06/06)
Por Mário Pacheco - 29/04/06
Conheci a guitarra de Alexandre Penna nos quatro discos fundamentais do seu saudoso irmão Marco Antonio Araújo. Alexandre Pena é um excepcional guitarrista com solos fantásticos e inventivos à altura das inspiradas melodias do seu irmão, um dos seus grandes solos pode ser ouvido na faixa “Panorâmica” e é excedido ao vivo. Com um toque meio beatle nas cordas e influência oriental, tive o privilégio de passar os últimos 20 anos ouvindo algumas apresentações ao vivo dele quando atuava ao lado do Marco Antonio Araújo. Intimamente eu ligo o seu nome aos mestres Sérgio Dias, Dudu Chermont e Marcus Rampazzo.
Seu último trabalho em Cd foi o Berinblues com direção artística do compositor e instrumentista André Geraissati egresso do Trio D’Alma.
Em BerinBlues, Alexandre Pena mescla ritmos afro-brasileiros com elementos do jazz, flamenco, rock, raga e a sua linguagem própria da montanhas.
Acompanho a sua carreira via Portal Natu Blues e sabia que ele estava fazendo shows... Na segunda-feira, abri o jornal e nem acreditei, show do Alexandre Pena, no Feitiço Mineiro na terça-feira! Sai do serviço passei no CONIC e tomei umas cervejas. Estava frustrado porque eu sabia que não conseguiria gravar ou filmar o show. Perto da hora, no estacionamento peguei Zéantônio e fomos para o restaurante lugar do show.
FEITIÇO MINEIRO – DF
15 de junho
Alexandre Penna recentemente trocou o sobrenome Araújo por Penna e está com menos cabelos, hoje somos senhores!
Antes do início do show, ele bebe duas doses de café, trocamos algumas palavras e acredite ou não ele me dedica o show. Falei da possibilidade de lançar um Cd ao vivo do Marco Antonio Araújo. Falei que possuía o show do MASP de 1984 e o Instrumental 85. Que eu não tinha o bis do final do show de Brasília e quando consegui o show completo do MASP, me lembrei na hora do bis e que bis! Então juntando os três Cds daria um excelente disco-pirata, bootleg mesmo com aquela acústica pinkfloydiana da Sala Martins Penna e até as tosses do público como que limpando a garganta antes do show. Alexandre Penna se lembra muito bem dos shows e das datas! E ainda disse que muita coisa foi gravada por cima! Uma pena.
Anteriormente, eu entrei em contato com o contrabaixista Ivan (um dos participantes desta gravação) e ele alegou que o seu empresário tinha que ouvir a gravação. Perguntou: Como eu consegui? Se era da mesa de som. E encerrou a conversa com: Isto é, pirataria! Quando me deparei com esta ilha de dificuldades encerrei o papo. Ainda tentei passar o tape adiante com o selo paulista que lançava os Cds do Marco Antônio Araújo e o que eu ouvi? – Tem música inédita? Pô! Francamente, estamos falando da música do Marco Antonio Araújo! Ali saquei que alguma coisa fedia!
Mas falando com o Alexandre Penna, ele foi atencioso e gentil, ficou interessado na idéia e como eu registrei com o gravador nas pernas e se eu tinha capturado a parte indiana. Naqueles tempos éramos peritos em gravar o show e ouvi-lo em casa. Hoje mais pessoas fazem isso do que pensávamos. Os músicos têm o prazer de registrar o próprio show e depois ouvi-lo no toca-fitas do carro.
Alexandre Penna está recuperando partituras de Marco Antonio Araújo de 1974 e que nos 20 anos de sua morte pode surgir algo...
Voltando ao show. Alexandre Penna empunha a velha Gibson, senta no banquinho e assessorado por uma gaita ataca os instrumentos em uníssono. É uma surpresa para mim. Ele toca gaita e canta muito bem! A gaita faz a parte rítmica e preenche toda a música. São blues rurais de John Lee Hooker e Lightnin’ Hopkins. Somente um grande coração para suportar uma enorme dor. Em Babe, please don’t go, da qual eu não conheço a original deu pra sacar como os brancos na melhor das hipóteses adulteram os blues.
A platéia era pequena. Durante o set do citar uma falta de educação: conversas altas ameaçavam a paz. Quando magicamente abriram-se as portas laterais e a mesa foi colocada para fora! Igual ao truque de puxar a toalha e deixar os copos em cima da mesa. Nesse set de citar, Alexandre Penna toca temas regionais e me desculpe o uso desta palavra, um pupurrí de canções mágicas dos anos 60, Beatles, Stones, etc. É a única reminiscência dos shows dos anos 80 e uma rara apresentação de citar.
No set final, quando a coisa decolaria, a banda com músicos de Brasília reunidos para aquela jam, esbaldou-se acompanhando o mestre nos duelos e se surpreendendo quando humildemente com aquele toque pessoal Alexandre Penna inverteu o papel fazendo o acompanhamento nas bases para que o guitarrista solasse e a guitarra foi passando de mão em mão e todo mundo tocou, a cozinha lembrava o Double Trouble. Eles estavam curtindo junto com a platéia. Em Brasília, existem muitos músicos de blues, eu só não entendi porque eles não estavam ali. No final do shows os músicos foram agradecer pelo privilégio de ter tocado com ele, isso foi muito bonito.
Publicado em: whiplash
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